“Ladainha muda de uma quase personagem” é uma peça cujo fio condutor é a história da personagem Marianinha, uma criança que brinca de inventar histórias em sua casa, enquanto lida com a progressão da doença da avó. Marianinha reflete pela primeira vez sobre a morte, o luto e o medo. As ações e sensações da menina são apresentadas pela voz de um narrador que diz estar criando a personagem naquele momento.

​

Noutro canto do palco encontramos uma escritora que escreve o personagem narrador de Marianinha (num jogo semelhante ao da obra “A hora da estrela” de Clarice Lispector, em que a narradora cria o personagem Rodrigo S.M. e é ele quem fala sobre Macabéa). Temos assim uma estrutura semelhante às matrioskas (conjunto de bonecas colocadas umas dentro das outras), em que dentro de uma história há outra, e dentro desta mais outra, sucessivamente. A comparação com o tradicional brinquedo russo não é vã, uma vez que Marianinha brinca de criar histórias com seus bonecos, e estas construções de cenas por ela inventadas também costuram o texto. 

​

Esta é a sétima montagem do Grupo P.U.TO., companhia criada em 2013, em Curitiba, que investiga a criação cênica a partir de elementos de musicalidade, e o desenvolvimento de dramaturgia autoral em processos colaborativos, nos quais os artistas experimentam diferentes funções  criativas na construção da obra. 

Neste novo trabalho o grupo segue explorando os efeitos do humor ácido e desconfortável, intercalado com cenas de cunho reflexivo e trechos de carga dramática mais intensa. 

​

Para demarcar o ritmo desta história que se desenrola no cruzamento de diversos planos ficcionais, a encenação amplia o uso de recursos audiovisuais como elementos dramatúrgicos, estabelecendo o diálogo de vídeos em projeção com os corpos dos atores em cena.