Assessoria de imprensa
CLIPPING IMPRENSA
GRUPO P.U.T.O.
JERUSALÉM (2013)
Margens da Razão
por Ricardo Nolasco
A fita crepe, de uso tão recorrente, demarca um território e constrói uma moldura que delimita o espaço. Chão e parede compõem um universo: Jerusalém. Deste espaço nada entra ou sai, as personagens do livro homônimo de Gonçalo M Tavares estão ali e ali permanecem até a última cena, sem escapatória ou esperança. Jerusalém parece ser um hospital psiquiátrico (a presença de um “doutor” favorece esta leitura), uma cidade onde vivem seres atormentados ou um retrato desesperançado da humanidade. O que de fato importa é que a delimitação do espaço constrói um lugar a ser observado com suas próprias lógicas e regras.
Em tempo de lutas antimanicomiais e da despatologização de “tormentos mentais” é inevitável a reflexão a esse respeito na fruição do espetáculo. Deleuze e Guatari, no Anti Édipo, nos apresentam o corpo histérico como o próprio corpo sem órgãos, erógeno e conectado como em um único órgão: Um puro fluido em estado
de liberdade sem corte deslizando sobre um corpo pleno. Nem boca, nem língua, nem dente. Creio que depois de um turbulento século XX de investigações na área da psicologia seja ponto pacífico que a anormalidade esteja relacionada ao enquadramento social. O movimento surrealista buscou artifícios, completamente envolvido pelas pesquisas de Freud, para a loucura. Artaud diz que Van Gogh foi suicidado de uma sociedade que matou um de seus maiores gênios da arte. Já em Jerusalém as metáforas e a produção de sentidos ligada a loucura são mais desenvolvidas que o próprio estado anômalo (diferente do que propõe Artaud em O Teatro e Seu Duplo), sendo uma alegoria para o mundo que cria monstros reféns do fetiche racionalista. A loucura é representada e ainda entendida como uma figura de linguagem em vez de uma busca da encenação. Há reflexões sobre o horror bélico como disparadores da narrativa e uma marcação rigorosa composta de constantes quedas.
A dramaturgia apresenta inclinações para levar até sua forma discursos esquizofrênicos e histéricos, constrói camadas, mas não radicaliza essa proposta. Mesmo buscando experimentar recursos ainda está muito vinculada a estrutura do texto dramático e épico quando se percebe a inclinação para o pósdramático. A sonoplastia é um destaque e elemento fundamental da encenação, criando ambientação e dramaticidade ampliando o trabalho dos atores. Juliane Souto e Lígia Quirino em interpretações deslumbrantes são, sem sombra de dúvida, as atuações mais consistentes da 20ª Mostra da FAP, por enquanto...
LINKS
Em cartaz no Kraide, peça “Jerusalém” discute relações entre torturados e torturadores
DATA: 08/2014
Festival de Teatro premia mostras universitárias
DATA: 07/2015
EXTRAÍDO DE: http://www.furb.br/web/3687/fitub-festival-de-teatro/noticias/festival-de-teatro-premia-mostras-universitarias/3411